Energia é a nova internet

Se você não está prestando atenção no que está acontecendo no mercado de energia, você deveria. Nós já vimos esse filme antes: há enormes oportunidades econômicas em mercados que estão se abrindo. Já se imaginou na década de 90, sabendo que Google, Netflix, Spotify, Facebook, Amazon, Uber estariam em operação dentro de alguns anos?

Desta vez será a “enernet“, e não a internet, que irá transformar nossas vidas. A história é a mesma, mas os atores mudaram.

O resumo dessa história é o seguinte, por todo o país, concessionárias operavam redes altamente centralizadas em suas áreas de concessão. Então, empresas locais começam a abastecer o mercado com uma tecnologia mais distribuída. Estas empresas criam uma competição e um nova rede surge sobre a antiga.

Foi assim que aconteceu com o mercado de telecomunicações à 20-30 anos atrás. Começamos com empresas como Telebrás, Telemig, Telesp e hoje os gigantes da comunicação são outros. Saímos da comunicação analógica e hoje temos internet de alta velocidade que foi construída passo a passo sobre as antigas redes.

Agora, os atores são outros. Aqui no Brasil, estamos num estágio tão inicial, que eles ainda não existem. Nos EUA, SolarCity, Sunrun entre outras são empresas que ajudam os consumidores a diminuir custos de energia com adoção de tecnologias de geração distribuída que utilizam a rede de distribuição existente.

A SunEdison, criou essa revolução da enernet há mais de uma década atrás, através de um modelo de financiamento que tornou a geração solar fotovoltaica acessível e escalável. Ano passado, a Tesla, fabricante de carros elétricos, apresentou sua novas telhas com células fotovoltaicas integradas. Energia solar não é mais apenas acessível. É acessível, bonita e integrada às edificações. Para completar, tudo será integrado a um sistema doméstico com armazenamento de energia e pronto para recarga de veículos elétricos.

Tudo isso vai muito além da Tesla. A lista de inovadores no setor é enorme e não para de crescer. E estes estão construindo ou desenvolvendo nanogrids e microgrids com recursos energéticos distribuídos e usinas de geração virtuais. Eles criaram novos materiais de construção e iluminação inteligente e novos modelos de negócio para reduzir custos e melhorar o atendimento.

No coração disso tudo, a enernet é um dos pilares tecnológicos para as cidades inteligentes, junto com internet das coisas (IoT), sistemas distribuídos, novas tecnologias de rede, veículos elétricos e autônomos. Essas tecnologias vão nos conduzir a mudanças drásticas e nos forçar a repensar nossas cidades, serviços oferecidos ao cidadão e os setores de transporte, seguros, imobiliário e financeiro.

E, quando isso tudo evoluir, vão surgir cidades mais seguras, saudáveis, sustentáveis e inteligentes. Haverá mais segurança energética e resiliência a situações de emergência como catástrofes naturais ou ataques criminosos.

Mas tenha paciência, pois estamos apenas nos estágios iniciais de algo imenso que ainda irá acontecer.

Há ainda, aqueles que espalham a semente do medo e da dúvida. Falam que essas mudanças custam caro e demoram demais, mas isso é bobagem. Pergunte se a transformação da internet foi cara demais ou se foi devagar. Se deveríamos ainda ter máquinas de escrever em casa e usar linhas de telefone fixo. Fato é que essa evolução foi rápida e realizada por aqueles que entenderam estes custos como investimento.

Da mesma forma, a mudança para energia limpa vai ser rápida e prudente, na medida em que as tecnologias fotovoltaica e de armazenamento de energia evoluam e os preços continuem a cair.

Há quem diga que se isso tudo ocorrer, as concessionárias estarão condenadas. Não é tão simples assim. Facebook e WhatsApp não acabaram com as empresas tradicionais de telefonia, na verdade elas estão muito bem. Da mesma forma, concessionárias de transmissão e distribuição de energia elétrica tem uma gigantesca oportunidade a frente. Será impossível que essa transição ocorra sem a participação delas, e há grandes vantagens econômicas adiante para elas. Mas, para isso, essas empresam precisam enxergar adiante e ser visionárias, sem acreditar que a evolução é sinônimo de concorrência.

Todos terão muito trabalho pela frente, da mesma forma que a Globo está tendo para alcançar o Netflix. As empresas tradicionais precisarão reduzir o risco futuro por meio de investimentos internos e aquisições. Gerentes visionários serão ouro nos próximos dez anos, enquanto a dinâmica do mercado mudar e os resultados disso ficarem óbvios e urgentes para as empresas donas atuais do mercado.

Dito isso, a inovação da enernet, assim como inovação em qualquer setor, dificilmente se originará dentro das empresas tradicionais, a não ser que sua empresa tenha um Steve Jobs, provavelmente ela irá adquirir inovação, e não criá-la.

Este é o pano de fundo para as oportunidades que se apresentam para pequenas empresas, startups e investidores. Estou muito satisfeito e empolgado por estar participando disso tudo, e espero que mais empreendedores possam enxergar essas oportunidades também. O mercado só tem a ganhar com mais gente divulgando estas inovações.

O filme não é novo, e essa não é a primeira vez que está passando. Precisamos parar de parecer surpresos com tudo e começar a agir. O Brasil tem tudo para ser um player global na enernet. E dessa evolução surgirá um novo tipo de economia, mais robusta e saudável.


Tradução livre e adaptada de TechCrunch.

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