Esperar os preços de equipamentos ficarem menores custa mais caro no longo prazo

Esperar o preço de uma nova tecnologia cair antes de adotá-la pode parecer uma decisão sábia. Mas quando essa decisão está relacionada a uma fonte de energia, economizar o investimento no curto prazo pode sair caro no futuro. Essa é a principal conclusão de um estudo realizado por Clara Heuberger do Colégio Imperial de Londres.

Quase todas as nações do mundo prometeram reduzir as emissões de gases de efeito estufa com o objetivo de reduzir o aquecimento global. Grande parte dessas promessas está fundamentada na conversão de geração de energia elétrica de fontes combustíveis fósseis para fontes renováveis. Mas existe um dilema entre o custo baixo e disponibilidade imediata dos combustíveis fósseis e a necessidade de tempo e investimento para adoção de fontes renováveis.

Esperando por unicórnios

Pode até fazer sentido esperar o preço das fontes de energia solar caírem antes de implantá-las. Mas existe também a tentação de esperar pelo que os pesquisadores chamam de unicórnios tecnológicos. São coisas como uma nova geração de sistemas de armazenamento de energia para para usinas de grande porte, sistemas mais baratos para captura de dióxido de carbono em usinas térmicas ou até mesmo a fusão nuclear. Em outras palavras, existe uma tendência de pensarmos que não vale a pena investir firme em renováveis enquanto não surgir uma nova tecnologia disruptiva, barata e que revolucione tudo.

Para analisar as consequências dessas decisões, pesquisadores utilizaram um modelo da rede de energia do Reino Unido. Neste modelo, as concessionárias de energia fazem suas escolhas baseadas no preço de mercado atuais e diferentes capacidade de prever a chegada de tecnologias inovadoras. Num dos extremos, a concessionária tem capacidade para prever exatamente quando uma nova tecnologia estará disponível e faz seus investimentos em um plano otimizado até 2050. No outro extremo da simulação, os investimentos da concessionária em novas usinas e infraestrutura ocorrem baseados em um plano de cinco anos, sem capacidade de previsão.

Todas as decisões realizadas na simulação tem o mesmo objetivo, que é limitar o aquecimento global em, no máximo, 2°C. Isso é alcançado através de cortes, colocando um custo alto para emissões de gases de efeito estufa ou até mesmo comprando a melhor tecnologia, como armazenamento com baterias, antes dela se tornar mais barata.

Não vale a pena esperar

A espera por esses unicórnios tende a não ser vantajosa. A maior diferença nos cenários avaliados não é a chegada da nova tecnologia, mas se foi adotada uma estratégia de investimento arrojada ou não. Mesmo com o conhecimento que a nova tecnologia estará disponível em 2035, esperar por ela resulta em um custo total maior em 2050, do que uma estratégia de investimento agressiva que tenha conhecimento que não haverá novas tecnologias.

É claro que é difícil prever quando estas novas tecnologias irão surgir e estar disponível comercialmente. Em um cenário em que é possível prever apenas no curto prazo de 5 anos, a estratégia de investimento agressivo é mais barata no longo prazo do que aquela que espera novas tecnologia se tornarem realidade. E caso essa nova tecnologia nunca chegue, o cenário que a espera custa 60% mais do que os outros cenários.

A razão para isso acontecer é que a espera por novas tecnologias resulta em uma matriz de geração muito homogênea no ano 2050. E o sistema de geração de energia deixa de balancear fornecimento e demanda pois são construídas mais usinas do que realmente é necessário. Usinas de geração de energia tem longa vida, por isso, decisão construtivas no presente são muito importantes e uma usina construida hoje pode não ser custo-efetiva daqui a vinte anos.

Pelos menos nos parâmetros de simulação utilizados, quem adota tecnologias como armazenamento de energia, captura de CO2 e energia eólica offshore, é financeiramente premiado no longo prazo, pois não precisa construir mais usinas depois. A adoção rápida de tecnologias também ajuda no ganho de escala, o que acelera a diminuição de custos de adoção.


Traduzido e adaptado de: Ars Technica

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